Adoniran Barbosa – nome artístico de João Rubinato (Valinhos, 06 de agosto de 1910) – foi um dos maiores sambistas da história. Compositor, ator, cantor e humorista. Suas letras eram originais porque buscavam a simplicidade, o representar da fala paulistana, as histórias que aconteciam nos botecos boêmios...
Era um contador de histórias nato, nas rodas dos bares juntavam-se muitas pessoas quando ele abria a boca, cativava! Conta a lenda que quando trabalhava na Rádio Record foi pedir um aumento e o diretor, na época, disse que iria estudar o assunto e que voltasse em uma semana. Uma semana passada, então, Adoniran voltou e o mesmo discurso mantinha o tal diretor, direto como era respondeu:“Tá certo, o senhor continue estudando e quando chegar a época da sua formatura me avise".
Dizem que gastou todo o dinheiro que tinha ajudando amigos ou comemorando o sucesso, mas amigo tinha muitos – e verdadeiros. Coisa rara, mas seu carisma e jeito simples eram encantadores.
O samba carioca tirou o chapéu para o samba paulista a partir de então, seu maior sucesso foi Trem das Onze. Quem aí não conhece pelo menos o estribilho? “(...)Moro em Jaçanã/se eu perder esse trem/ que sai agora às onze horas/só amanhã de manhã!(...)”
O nome artístico surgiu de um de seus personagens que representava nos programas de rádio, e assim o pseudônimo passou a ser confundido com o seu criador. Não vendo problemas, Adoniran aceitou.
O tema de suas canções tinha origem no dia a dia corrido de São Paulo, os despejados das favelas, os engraxates, a mulher submissa que se revolta e abandona a casa, o homem solitário, social e existencialmente solitário. Uma delas foi Iracema, que nasceu de uma notícia de jornal: uma mulher que fora atropelada vinte dias antes do casamento.O paradoxo bom humor/realidade era a sua fonte de inspiração.
Iracema
Adoniran Barbosa
Iracema, eu nunca mais eu te vi
Iracema meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei de dor porque
Iracema, meu grande amor foi você
Iracema, eu sempre dizia
Cuidado ao travessar essas ruas
Eu falava, mas você não me escutava não
Iracema você travessou contra mão
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.
- Iracema, fartavam vinte dias pra o nosso casamento
Que nóis ia se casar
Você atravessou a São João
Veio um carro, te pega e te pincha no chão
Você foi para Assistência, Iracema
O chofer não teve curpa, Iracema
Paciência, Iracema, paciência
E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato
http://www.youtube.com/watch?v=Ea5nMXIRxQM (Iracema - Elis e Adoniran 1978)
Ao contrário dos grandes sambistas, que buscavam a construção de suas letras mais formais e o emprego da segunda pessoa, as de Adoniran eram pontuadas pela escolha exata do ritmo da fala paulistana, relatando a sua própria fala - foram na contramão da própria história do samba. Uma maneira sutil de inserção social. Grandes nomes como Elis Regina, Clara Nunes e Demônios da Garoa interpretaram as suas letras.
Morreu com 72 anos em 23 de novembro de 1982.
Saudosos ficamos de Adoniran Barbosa, não da “maloca”, porque esta toca e vai tocar sempre nas rádios, naquele cd clássico que todo mundo tem, mas você... foi alegrar o céu com o seu samba!
Neste exato momento cai uma chuva fina aqui, como a garoa de São Paulo... será que me ouviu?! Então canta o Samba do Arnesto, vai! Era uma das minhas preferidas!
"O Arnesto nos convidou/ pra um samba/ ele mora no Brás/ nós fumos / não encontremos ninguém..."
by Bis
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