quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Entrevista parte II


Fale do seu último álbum, que ‘saiu do forno’ no final de junho [2010], não é mesmo?

Tenho gravado em L.A. algumas demos pra terminar aí no meu estúdio quando voltar e a ideia é que isso se torne um disco. Vamos ver. O último single, "Todo este tempo", em menos de um mês teve mais de 3 mil acessos no myspace, ninguém divulgou, não teve show de lançamento nem nada, foi uma resposta muito natural e positiva e olha que meus parceiros são uns puta poetas do cacete, ou seja, não tem riminha fácil nem clichê nem crase nem reticência. Confira:

Todo este tempo (Nei Duclós & Sergio Mello)

Todo este tempo em branco estive doente
Todo este tempo surdo estive morto
Todo este tempo vesgo estive louco
Todo este tempo porco esperei o vento
Todo este tempo sem esporro!
Nem que eu leve mil anos engravidando
Rebentarei com a verdade que vou guardando
Nem que eu leve mil anos esperando a vida toda morrendo


para ouvir esta e as outras canções de Sergio, acesse:
http://www.myspace.com/sergiorockmello


E o livro? Quando sairá? Mate um a nossa curiosidade adiantando um pouquinho da história, vai!



Quanto aos livros "Rock História" e "Fragmentos de Abóbora” ou “Os Estados Unidos não existem, eu sei, eu vivi lá", continuo atrás de uma editora que tope lançar os dois quase simultaneamente - o terceiro, "Melodia Macabra”, já está a caminho e estou louco pra entrar nessa historia de novo. Comecei há uns seis meses, quando dava as últimas penteadas no texto do Rock História, que é uma autobiografia e se você quiser te mando um trecho agora mesmo.

OLHA SÓ! O Sergio liberou um capítulo do livro "Rock História" para o público do ARTHERIA! Enjoy it!

- Barcelona, Madri, Frankfurt -

“Quando você se separou de mim
Quase que a minha vida teve fim
Sofri chorei tanto que nem sei
Tudo que chorei por você”
(Roberto Carlos)

Ao contrário das demais cidades alemãs, Frankfurt, “a menor metrópole do mundo”, com uma população igual à de Ribeirão Preto, não tentou renovar sua aparência depois da segunda guerra mundial. Ela reconstruiu arranha céus e construções modernas que convivem em harmonia com prédios medievais de mais de seiscentos anos.
Aproximadamente um em cada três habitantes de Frankfurt não possui passaporte alemão, venha de onde vier, um visitante irá sempre encontrar pessoas que falam seu idioma. Izzy não teve tanta sorte. Hospedou-se no Hotel Paris às margens do Rio Meno e no dia seguinte já estava na porta de uma fabrica de salsichas dividindo uma fila imensa com turcos, chineses, tchecos e indianos que preenchiam em inglês as fichas de trabalho. No mesmo dia caiu no batente.
Nas horas livres flanava pela cidade debaixo de uma garoa fina que gelava ossos e esfriava o coração. Chovia durante todo o tempo. Gotas de chuva batiam no seu rosto enquanto o vento uivava estranhas melodias sem nexo e as pernas enrijecidas pelo frio aumentavam a angústia e isolamento. A chuva não passava e Izzy sentia falta até de seu nome que os alemães insistiam em pronunciar com um z mais forte do que estava acostumado a ouvir.
Seu sorriso mudou, foi se tornando serio e a saudade tinha gosto de tomate seco. Passava pelos dias que passavam por ele com uma indiferença mesquinha onde Biafra era a única personagem viva nas bordas da memória. Seu cheiro continuava em suas mãos. Não contava mais os dias e ao contrario de quando chegou seu desespero se transformara em fios de resignação. Com movimentos mecânicos e pensamento distante, desempenhava seu trabalho na fabrica como um robô programado para cumprir sua função. Solidão é uma orquestra surda e taciturna onde acordes imaginários perturbam mais do que emocionam. Da cidade não conheceu quase nada. Depois que saía do trabalho, vagava por ruas forasteiras e terminava a noite numa cervejaria qualquer pra encher a cara antes de dormir. Aboletava-se num canto do balcão e entre uma cerveja e um chucrute ficava imaginando como o escritor e pensador Wolfgang Goethe, uma das figuras mais importantes da literatura alemã e do Romantismo europeu se sentiria na sua cidade natal um século depois. Às vezes algum vizinho de balcão puxava conversa, mas o papo logo morria. As duas únicas palavras que aprendeu em alemão foram “ein beer” e “dank”. (uma cerveja, obrigado)

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